sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Caos Mental Geral

O dia mal havia acabado e seu limite de estresse já estava ultrapassado.
Tudo ao seu redor lhe irritava, não suportava ver mais ninguém, nem escutá-los.
Em um súbito ataque de raiva partiu para a sala e ligou o som no volume máximo, com uma musica de destruir quarteirões inteiros com apenas o riff de guitarra inicial.
Ali na sala “bangueou”, socou o ar, correu de um lado para o outro dando com os ombros nas paredes e chutando as almofadas do sofá.
Estava em fúria, a única coisa que o dominava naquele momento era a raiva, raiva que fora despertada sem dar muito aviso, de coisas acumuladas ao longo da vida.
Correu para o quarto e foi direto ao guarda-roupa, jogou todas as roupas no chão, e com uma força descomunal começou a destruir todos os móveis.
Arrancou as portas do guarda-roupa, jogou-as pela janela, estraçalhando-a toda, fazendo voar madeira e vidro por todo o quarto.
Atirou o criado-mudo na cama que já estava sem o colchão, o mesmo, havia sido jogado no corredor antes mesmo de voarem as gavetas do criado-mudo no teto.
Passou do quarto para o banheiro e como um furacão, atirou pasta de dente em toda parede e o creme de barbear estava pelo teto e no Box. Arrancou a privada e estraçalhou-a na pia. A água jorrava por todo o cômodo e escorria pela casa.
A música na sala fazia a casa reverberar raivosamente, era brutal, destrutiva, pesada ao ponto de lhe deixar ainda mais fora de si.
A cozinha foi levada a baixo em poucos minutos. Geladeira, fogão, microondas e outros eletros-domésticos voavam e viravam metal contorcido ao se chocarem com paredes e até mesmo uns contra os outros. Os talheres, copos e pratos estavam por toda a parte, pratos e copos misturavam-se quebrados pelo chão. A pia da cozinha jorrava água até o teto inundando ainda mais a casa. Os armários desmantelados em ambos os lados do cômodo foram mastigados e cuspidos por um gigante.
Com a raiva ainda crescendo, foi direto ao sofá da sala, empunhando uma faca de carne, estraçalhou aquele móvel, espalhando espuma e tecido por todos os lados.
Arrancou o som, o toca-discos e o DVD da estante. Jogou tudo pela janela novamente espalhando pedaços de vidro, madeira e restos de eletro-eletrônicos por toda a sala.
Mas de repente se deu conta de que a musica havia cessado e de que tudo estava um caos.
Foi então que viu a TV ali, intacta. Um largo sorriso lhe surgiu a face e um sentimento de alívio o dominou.
Por todos os lados procurou o controle, encontrando-o depois de muito trabalho.
Ligou a TV e sentou-se naquele caos geral, acalmando-se como se sua mãe o tivesse nos braços o acariciando.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Entreviu

Ao termino de mais uma noite exaustiva, volta para casa na linha férrea que se torna vazia ao se aproximar da madrugada. Senta-se como de costume próximo a saída do vagão.
A sua extrema esquerda, do outro lado, costumeiramente, esta uma bela garota. Sempre a observa, e nos intervalos de luz e escuridão que se faz com o trem em movimentos, devido a iluminação a beira da linha, admira sua beleza.
Mesmo na escuridão deixada pelo espaço entre iluminações, sua silhueta é de visível perfeição. E quando a luz torna a voltar percebe que seu rosto transparece a dor de um coração magoado.
Há muito devia sofrer, pois sempre estava cabisbaixa. Quem sabe amor não correspondido, ignorado, sofrido, deixando-a de lado. Seus olhos negros de dor imploram por abrigo.
A linha férrea se estende e pela janela do vagão apenas as paredes frias e cinzentas do metrô os acompanham, e os intervalos de luz e escuridão ainda se fazem frequente.
A garota desenha um coração partido no vidro úmido da janela do vagão, logo em seguida seu celular toca e imediatamente ela atende.
Depois de algumas palavras e uns instantes em silêncio, uma lágrima escorre por seu rosto.
A conversa ao celular cessa e ela retira uma agenda de dentro da bolsa, faz alguns rabiscos e derrama mais algumas lágrimas.
Ela se levanta, seca o rosto, apaga o coração do vidro e segue em direção a saída.
Rotineiramente estarão ali naquele vagão, e como de costume continuará a observá-la aos intervalos de escuridão e luz que segue a linha.
Deseja ainda vê-la do outro lado do vagão com uma expressão mais alegre, postura firme e brilho nos olhos. E independente de tudo ficará feliz, por vê-la feliz.