domingo, 29 de julho de 2012

Rubro



Eu gosto das noites frias, sentado ao relento olhando o céu negro pintado de luzes.
Vagando em pensamentos eu vejo toda cidade iluminada aqui de cima.
O amargo quente que sobe pela bomba e o som ao fundo acalmam.
Eu gosto do frio, de vestir meus trapos e ficar sentado olhando pra imensidão lá em baixo.
Saber que isso me faz lembrar coisas boas e ruins.
Sentir aquela sensação de arrepio por lembrar-se de um amor, um momento marcante ou mesmo daquela conversa e da pessoa que se foi e que não voltará.
E no turbilhão de pensamentos os olhos ficam submersos.
“A vida é doce, depressa de mais”.
Racionais não por frieza, talvez por medo das consequências.
Mas “o que se faz com amor ultrapassa as barreiras do bem e do mal”... O caminho com mais espinhos, com mais pedras, mas que nos torna mais fortes e “quem um dia irá dizer que existe razão...”?

domingo, 15 de janeiro de 2012

Noise!

O que é melhor pra afastar fantasmas?
Como saciar a raiva?
Como clarear a visão?
O que fazer quando se está no centro do furacão?
Como parar de sangrar?
Como não se machucar?
Barulho, muito barulho!
Quanto mais alto melhor
Quanto mais forte melhor
Quanto mais pesado melhor
Receita perfeita para inconformidades.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Malograr

No fundo do poço, sem opções cabíveis de sair
Angustiado e destruído pela umidade
As pedras escorregadias transformam o lugar em uma cela intransponível
No alto, muito a cima do imaginado, só um ponto luminoso
A esperança de resgate é mínima
A voz ecoa surda e sem vida
Os sentimentos se fundem
Os sussurros da mente trazem tormentos nunca imaginados
O escuro fundo, pegajoso vai se tornando familiar
As coisas se moldam, encaixam
Com o passar do tempo se esquece o que realmente o levou até lá em baixo
Até mesmo deixa esquecer-se de tudo ao redor.
E sem esforço algum, sem tentar, sem lutar, sem gritar
A luz fica cada vez mais intensa
As paredes já não são tão frias
A voz já não ecoa mais
E por mais que algum sussurro tente lhe atormentar, será difícil
É como se estivesse sorvido toda umidade e frieza do fundo
Um corpo fechado, intacto, intransponível. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Musicalizar

Acalma, tranquiliza, faz viajar.
Da explosão a calmaria, do psicodélico a realidade.
Harmônico, bend, slide, riff, ritmo, ton, surdo, sol, lá, #, menor...
A guitarra o baixo, a bateria a voz, tudo junto harmoniosamente fazendo esquecer o mundo.
Do básico ao complexo, de três notas à virtuose, é expressão, é sentimento, é teu.
O processo, a criatividade, o gosto, é único e agradar geral não é o primordial, mas sim a satisfação pessoal e o orgulho de ver finalizado, independente da multidão, se forem uma ou cem mil.
Letra de protesto ou de amor, conto de fadas ou de guerreiros.
Misturar o clássico com o sujo, o calmo com o psicodélico
E nos resta apenas viajar, curtir, gritar, chorar, lembrar...
A letra toca, o ritmo marca e tudo conspira a favor.
O bom marca gerações, não é modal, não tem preconceito, é derivável.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Refúgio

A noite calma trazia o alívio de dias difíceis.
Mas a calmaria foi quebrada pelo alerta.
Um uivo intermitente, como de um lobo chamando sua alcatéia.
E na noite que passava a ser confusão, o único lugar para onde correr era o covil escuro e úmido.
Lá fora, depois de muito uivar, um silêncio mortal toma conta de toda a superfície, e no covil o murmúrio das pessoas com medo, e o choro baixo das crianças, toma conta da escuridão.
Só resta ali, em meio a tanto desespero, agarrar-se ao seu bem mais precioso. Tudo é valido para trazer conforto.
O medo se aproxima, conforme a matilha sedenta se aproxima.
O covil é um refugio, alguns acham um lugar seguro, outros uma maneira de evitar o inevitável.
Ali de baixo, os passos rápidos da superfície são o som do terror, a matilha corre sem destino, apenas correm em direção ao horizonte.
Horas ali se transformam em séculos de angustia e medo, e após esses longos séculos, um silêncio ainda mais mortal novamente toma conta.
Escuta-se ao longe novos uivos, tudo acima de suas cabeças parece normal. O uivo intermitente agora indica segurança.
O covil se esvai de vida lentamente, e o que se vê fora dele é o caos.
O mesmo medo e desespero que tomava todos sob a terra, ainda esta nos rostos que vagam sobre ela.
A matilha passou, levaram tudo, a esperança, a força, a vida. O lugar esta desolado, não há nada em pé, exceto por algumas paredes, muros e cercados. As habitações ainda de pé estão ardendo em chamas.
Daquele lugar, nada mais tem valor, tudo que poderia ser levado esta sob escombros ou em chamas.
Os que saíram com vida do covil agora serão andarilhos, sem nada para comer, nem para se apegar.
Caminharão em busca de abrigo, de esperança, mas nenhum terá conhecimento de que seu melhor abrigo no final da caminhada será um tanto quanto familiar.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Caos Mental Geral

O dia mal havia acabado e seu limite de estresse já estava ultrapassado.
Tudo ao seu redor lhe irritava, não suportava ver mais ninguém, nem escutá-los.
Em um súbito ataque de raiva partiu para a sala e ligou o som no volume máximo, com uma musica de destruir quarteirões inteiros com apenas o riff de guitarra inicial.
Ali na sala “bangueou”, socou o ar, correu de um lado para o outro dando com os ombros nas paredes e chutando as almofadas do sofá.
Estava em fúria, a única coisa que o dominava naquele momento era a raiva, raiva que fora despertada sem dar muito aviso, de coisas acumuladas ao longo da vida.
Correu para o quarto e foi direto ao guarda-roupa, jogou todas as roupas no chão, e com uma força descomunal começou a destruir todos os móveis.
Arrancou as portas do guarda-roupa, jogou-as pela janela, estraçalhando-a toda, fazendo voar madeira e vidro por todo o quarto.
Atirou o criado-mudo na cama que já estava sem o colchão, o mesmo, havia sido jogado no corredor antes mesmo de voarem as gavetas do criado-mudo no teto.
Passou do quarto para o banheiro e como um furacão, atirou pasta de dente em toda parede e o creme de barbear estava pelo teto e no Box. Arrancou a privada e estraçalhou-a na pia. A água jorrava por todo o cômodo e escorria pela casa.
A música na sala fazia a casa reverberar raivosamente, era brutal, destrutiva, pesada ao ponto de lhe deixar ainda mais fora de si.
A cozinha foi levada a baixo em poucos minutos. Geladeira, fogão, microondas e outros eletros-domésticos voavam e viravam metal contorcido ao se chocarem com paredes e até mesmo uns contra os outros. Os talheres, copos e pratos estavam por toda a parte, pratos e copos misturavam-se quebrados pelo chão. A pia da cozinha jorrava água até o teto inundando ainda mais a casa. Os armários desmantelados em ambos os lados do cômodo foram mastigados e cuspidos por um gigante.
Com a raiva ainda crescendo, foi direto ao sofá da sala, empunhando uma faca de carne, estraçalhou aquele móvel, espalhando espuma e tecido por todos os lados.
Arrancou o som, o toca-discos e o DVD da estante. Jogou tudo pela janela novamente espalhando pedaços de vidro, madeira e restos de eletro-eletrônicos por toda a sala.
Mas de repente se deu conta de que a musica havia cessado e de que tudo estava um caos.
Foi então que viu a TV ali, intacta. Um largo sorriso lhe surgiu a face e um sentimento de alívio o dominou.
Por todos os lados procurou o controle, encontrando-o depois de muito trabalho.
Ligou a TV e sentou-se naquele caos geral, acalmando-se como se sua mãe o tivesse nos braços o acariciando.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Entreviu

Ao termino de mais uma noite exaustiva, volta para casa na linha férrea que se torna vazia ao se aproximar da madrugada. Senta-se como de costume próximo a saída do vagão.
A sua extrema esquerda, do outro lado, costumeiramente, esta uma bela garota. Sempre a observa, e nos intervalos de luz e escuridão que se faz com o trem em movimentos, devido a iluminação a beira da linha, admira sua beleza.
Mesmo na escuridão deixada pelo espaço entre iluminações, sua silhueta é de visível perfeição. E quando a luz torna a voltar percebe que seu rosto transparece a dor de um coração magoado.
Há muito devia sofrer, pois sempre estava cabisbaixa. Quem sabe amor não correspondido, ignorado, sofrido, deixando-a de lado. Seus olhos negros de dor imploram por abrigo.
A linha férrea se estende e pela janela do vagão apenas as paredes frias e cinzentas do metrô os acompanham, e os intervalos de luz e escuridão ainda se fazem frequente.
A garota desenha um coração partido no vidro úmido da janela do vagão, logo em seguida seu celular toca e imediatamente ela atende.
Depois de algumas palavras e uns instantes em silêncio, uma lágrima escorre por seu rosto.
A conversa ao celular cessa e ela retira uma agenda de dentro da bolsa, faz alguns rabiscos e derrama mais algumas lágrimas.
Ela se levanta, seca o rosto, apaga o coração do vidro e segue em direção a saída.
Rotineiramente estarão ali naquele vagão, e como de costume continuará a observá-la aos intervalos de escuridão e luz que segue a linha.
Deseja ainda vê-la do outro lado do vagão com uma expressão mais alegre, postura firme e brilho nos olhos. E independente de tudo ficará feliz, por vê-la feliz.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Devaneio

Em que situação vivemos?
Estamos em cima do muro ou estamos dando a cara pra bater escolhendo um lado da situação?
Será que realmente todas as escolhas são pensadas?
Tem certeza de que todas as palavras ditas foram corretas, todos os pontos, acentos, vírgulas e exclamações?
E as interrogações?
Temos toda uma vida para cometer erros e nos arrepender, ser feliz e chorar, criar amizades e desfazê-las, encontrar e se perder... amar e não ser amado.
Será que a beira da morte, se vendo impossibilitado e sabendo que seus dias estão contados, temos um flashback?
Relembraremos todos os momentos marcantes e até aqueles que não demos muita importância?
Duvidas nos surgirão em momentos cruciais, e muitas mais ainda a beira da morte.
Muitas pessoas se vão, a tristeza nos toma arrebatadora.
Você os tinha e deixou-os de lado, somente se preocupou no final da sua estrada quando seu caminho já foi todo marcado por acontecimentos que talvez nunca serão esquecidos.
Talvez não tenha dado muita importância, deixou passar despercebido um sentimento que só se deu conta quando já não tem mais como voltar atrás e tentar mudar tudo.
Será que damos o devido valor as pessoas do nosso circulo social?
Será que brigamos, realmente, por nossos direitos ou baixamos a cabeça a mais simples exclamação que ouvimos?
Estamos certos ou errados?
Escutamos os outros ou seguimos nossa própria conduta?
Uma coisa é certa, quando o ultimo tijolo do tumulo for colocado seremos submersos em uma densa nuvem negra, de sentimentos à mil.
Chorar é o que resta.
Lembrar é o que resta.
Voltar atrás já não é mais uma das opções!

domingo, 18 de setembro de 2011

A Caminho

Noite de trevas deitado no seu quarto.
Feliz por estar só e poder pensar em tudo que se passou.
O ambiente era fúnebre, faltava-lhe apenas as velas e o caixão.
O som de uma guitarra, como que chorando um acorde vem ao longe, e se aproxima.
O passado lhe atormenta mais que tudo, todos os amigos deixados de lado, todos os seus amores, sua família.
Se vê caminhando entre túmulos abertos, como se procurasse alguém que deixou há muito tempo atrás.
O medo é sua companheira nessa caminhada, a cada túmulo uma mão se estende pedindo por ajuda, socorro ou apenas companhia.
Seu coração acelera e suas pernas começam a correr.
A velocidade aumenta conforme seu coração acelera.
Com a visão totalmente embaçada tropeça em algo e cai em uma cova rasa.
Tenta se levantar, mas algo o prende ao fundo.
Olhando pra cima, vê uma menina de capuz vermelho.
A única cor em todo aquele lugar cinza.
Ela estende a mão como ato de ajuda, mas o buraco fica cada vez mais fundo, puxando-o pra baixo, não querendo deixá-lo sair.
Em um espasmo de incomum força, se livra do fundo e agarra a mão da menina.
Ao sair do buraco percebe que uma luz intensa brilha ao fim de um caminho que lhe parece longo.
Corre, segurando pela mão a menina de capuz vermelho.
Não sabe por que esta com ela, mas corre como quem corre da morte.
O fim esta próximo e a luz é ainda mais intensa.
Sem olhar pra trás deixa aquele lugar imundo.
A menina some, e ele continua deitado na cama.
Um corpo ali no quarto, na mesma escuridão.
Corpo sem vida, pálido.
Triste, sozinho e deixado de lado.
Se foi... e nunca mais voltará.

domingo, 11 de setembro de 2011

Medo de Não Tê-la

O trem saiu não faz muito tempo da estação e ele não conseguiu pega-lo a tempo.
Sentou-se no banco e condenou-se.
Era um misto de raiva, por se atrasar,e tristeza, por saber que sua garota o esperava.
Pensou consigo mesmo que ela não o perdoaria.
Pensou em ir correndo, de bicicleta, mas sabia que não adiantaria.
As piores coisas vieram à sua cabeça.
E o medo de perdê-la foi o que mais lhe atormentou.
Foi pra casa, cabeça baixa e pensamento longe.
Chegou, bebeu whisky, colocou na vitrola seu melhor disco...
Deitou... Sentiu o frio entrar pela janela aberta, o vento era intenso, levantou-se para fechá-la.
Sentiu-se embriagado, cambaleou para trás, voltou e escorou-se na janela.
Havia escurecido e a noite estava estrelada e incomum.
Escutou batidas na porta, a janela ainda aberta trazia o perfume de sua amada.
Imaginou que poderia ser ela na porta.
Correu e abriu a porta.
O vento era a visita. Rajadas de vento socando a porta.
Sua tristeza o mergulhou em uma densa nuvem negra.
Caiu de joelhos e chorou intensamente.
A embriaguês ainda o dominava e o perfume trazido pelo vento o afundava ainda mais naquela espessa nuvem negra.
Seu velho mosquetão no baú foi o que lhe veio em mente.
Aquela velha arma usada há muitos anos atrás pelo seu avô.
Mas uma voz lhe tira tal pensamento.
Uma linda e doce voz lhe perguntando o que estava acontecendo.
Assustado, percebe que sua linda garota estava ao seu lado, com o mesmo perfume que o envolvera.
Percebeu então que não passava de um sonho.
Sua linda garota estava deitada ao seu lado.
Abraçou-a e beijou-a intensamente sentindo seu perfume.
Declarando-se pediu pra ela nunca o deixar, dizendo que nunca a deixaria também.